sábado, 30 de março de 2013

Ele está no meio de nós


Despojou-se, armando sua tenda na carne humana; esvaziou-se na morte, vencendo-a em sua pretensão de palavra última, eis o Cristo! Rasgou o coração, a alma, abrindo nas sombras da vida a grande clareira do amor. Oblação sem reservas, que, no tempo passageiro, fez germinar a inusitada esperança de eternidade. 

Graça, uma espécie de aurora boreal, amanhecer diferente, refrescante, milagrosamente oferente, dom celeste na terra dos mortais. Brisa suave a pacificar durezas diversas; acenos ternos, trocando o beijo da traição pelo ósculo da paz. Ah! Essa paz inquieta, exclamação espantosa, feito madrugada desperta, a guiar os passos trêmulos de seus amigos. Tudo, tudo, bem novo, vivente porque Ele vive.

 E o que vale, agora, irmão de fé? Insistir nas debilidades, continuar circulando ao redor dos fracassos? Não! Páscoa é primícia, fruto bom, de outra história possível. Nela o que serve é a dança alegre dos corações que se deixam redimir; é memória que se abre ao inesperado serviço cada instante. É hora inaugural, novo tempo, do amor não egoísta, das vidas que se repartem em salvífica fraternidade. Só entra em sendas pascais, quem sabe dividir o pão e a si mesmo, gerando um cotidiano de justiça amigável.  Nas cinzas da morte violenta, de Cristo, nasce o broto desejo do céu. Quão estreitas seriam, vaidades tantas, se não houvesse o horizonte maior da Ressurreição!

 Seja, pois, Páscoa de novas posturas pessoais e coletivas. Outra humanidade a se firmar, sem os excessos da violência e do poder. Apenas irmãos, portadores de bandeira única, do bem; enfraquecendo, aos poucos, a perigosa ganância de consumidores – consumidos. E na beleza de tudo que brilha no espaço, seria possível constituir a constelação irmandade, beleza de um novo brilho da raça humana. Estrelas? Sozinhas não serviriam senão para a projeção, bolha ao vento, das arrogâncias individuais. Constelação? Foi o que o ressuscitado deixou como herança, a força da luz que emana da comunidade pascal.

Pe. Vicente de Paula Ferreira, C.Ss.R.


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